quarta-feira, 3 de junho de 2015

Glóbulos Verdes


Aqui na Base Bela Vista temos um pequeno pomar com árvores nativas e também uma ou outra goiabeira, pés de pêra, de Marmelo, Nogueiras Pecan entre outras não nativas ( exógenas).

Desenvolver este pomar por si só  foi um trabalho épico de meu pai, pois quando criança,  lembro dele insistentemente lutando contra formigas, brocas, carunchos e pragas de todos os cantos, que iam atacando as mudas das árvores que eram plantadas.

O resultado da atuação destas pragas, víamos SEMPRE uma ou duas semanas depois, quando voltávamos ... e as mudinhas se tornavam restos de um massacre na batalha do pomar!

As formigas cortadeiras são um caso a parte, elas  praticamente inviabilizam o plantio de certos tipos de árvores como  amoreiras, caquis e  cítricas ... parecem ter uma curiosidade esfomeada sobre  “novos sabores” e basta você plantar uma cítrica por exemplo que elas  rapidamente ( uma semana) acham a muda e se refestelam.

Observei a vida inteira o desenvolvimento destas árvores, as poucas que vingaram, e  pude verificar claramente o quanto as árvores não nativas (exógenas)  são mais atacadas por parasitas e têm o seu desenvolvimento  dificultado.

Todas estas árvores escolhidas pelas formigas são podadas impiedosamente  e constantemente não sobrando nada! A árvore fica nua, despelada de folhas e quando  estão brotando novamente, são mais uma vez, acho que adoram um brotinho. Para combatê-las seria necessário o uso de veneno, porém minha orientação ecológica não permite o uso deste recurso pois acredito que este é o preço que a natureza nos cobra para convivermos  com ela harmonicamente e não devemos  combatê-la, apesar de ser difícil ver as mudinhas morrerem... mas de fato, com o passar do tempo e com a observação, mudei de opinião sobre animais e plantas parasitas ,que se constituem em uma brigada ecológica contra invasores.

Percebo  que quanto mais  equilibrada ecologicamente for uma área mais ela tende a se estabilizar  por conta própria, e os parasitas parecem ser  os glóbulos brancos do nosso sistema imunológico só que do organismo vivo da mata; de certo estão mais para glóbulos verdes atacando preferencialmente os seres exógenos que destoam da ecossistema local protegendo-o. Um exemplo  muito bacana destes parasitas são as ervas de passarinhos. Esta família de plantas utilizam, como  não poderia deixar de ser, os passarinhos para transportarem suas sementes e se disseminarem.

Algumas sementes  germinam nos galhos das árvores a partir das fezes quem  respingam nos galhos das árvores, outras  quando são regurgitadas e  grudam nos galhos quando os passarinhos vão limpar o bico; a partir daí  as raízes destas parasitas penetram  nas cascas das árvores hospedeiras o bastante para extrair a seiva (floema) a qual  rouba para se alimentar.

Parece tudo muito ardiloso pois se alastram  com facilidade e  em grandes infestações matam a árvore hospedeira, curiosamente elas costumam infestar mais árvores exógenas, pois o caule desta árvores não possuem as proteções adequadas , como  descascamentos ou enzimas, para  driblar o ataque destes parasitas.No passado confesso não gostava muito delas, e quando eu podia eu as arrancava com desdenho, porém surgiu um novo dado observado que mudou minha forma de enxergá-las:




Regurgitando
Recentemente  registrei uma nova espécie de ave para a região de Ibiúna (ARAPONGA DO HORTO), local onde se situa o Parque Estadual do Jurupará e mais especificamente a BASE BELA VISTA. Para mim registrar mais esta ave para  o parque foi uma conquista, uma grande alegria, e quando fui verificar minhas fotos, percebi que a Araponga do Horto  ( conforme  mostra a seqüência de fotos  do post) estava regurgitando as sementes de uma espécie de parasita que infestava a própria árvore onde a registrei ... lá estava  a cúmplice do crime!


De fato  as frutas da parasita eram vermelhinhas, apetitosas, e a araponga regurgitou mais de uma semente, e parecia que  vinham com um muco já prontinhas para grudar! Ou seja, a presença do alimento contribuiu  para a presença da ave e vice-versa, assim funciona a teia alimentar da natureza , onde  um indivíduo  colabora com o outro das formas mais variadas ...
http://www.wikiaves.com.br/1697550&t=u&u=505&p=1
observe a semente grudando no galho


Parasitas por si só  não são boas nem más , são parte de um  enorme quebra cabeça  de milhões de peças que  é  a biodiversidade e entendê-las  é o caminho para respeitá-las, na verdade  a natureza como um todo é generosa dentro de seus processos , e mesmo os parasitas retribuem para o conjunto de interações e controles entre os seres vivos, desta forma  um eventual mal que possa causar  ao indivíduo hospedeiro pode ser interpretado  como   um mal , mas vejo que nada mais é que um controle harmonico... mesquinho, explorador,e cruel mesmo, só o homem.

https://youtu.be/e5nzPzeSoOQ



Veja a foto no wikiaves: http://www.wikiaves.com.br/1697550&t=u&u=505&p=1



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domingo, 18 de janeiro de 2015

O “ canto da Sereia”




 O “ Canto da Sereia”

Antes de a fotografia dominar  98% do meu dia nas viagens à BASE BELA VISTA a pescaria era a  atividade  principal. Naquela época eu era criança e não tinha uma máquina fotográfica, assim sendo, não sabia que amava tanto fotografar  a natureza e suas surpresas!

Passava horas na beira da represa em busca do meu prêmio: um peixe bem grande para exibir (pois nem gosto muito de peixe), mas também torcia para avistar algum animal durante este período de silêncio e verdadeira  meditação.

Uma vez porém, meu sonho foi realizado, mas meio que as avessas !! Durante uma destas pescarias , e acompanhado de meu primo Richard, ocorreu um  episódio que para mim ficou marcado como um dos momentos onde mais senti medo na vida.

Era meio da tarde e estávamos pescando na beira da represa da Fumaça (represa dentro do parque Jurupará) quando ouvimos bem ao longe uma espécie de Canto da Sereia; era um som  que lembrava aquelas trilhas de filme de terror e o bom é que  este som estava longe!
Eu e meu primo até comentamos que parecia uma sereia, e na época eu já sabia que a mitologia dizia que as sereias cantavam  para atrair os marinheiros e depois os comiam ...

Aos poucos fomos seguindo com os  ouvidos o som ao longo da serra que ficava ao fundo  desta represa, e cada vez  a coisa ficava mais próxima... Quando este bicho gritou do nosso lado, meu DEUS! Arrepiei até a alma ... Para piorar o bicho parecia estar na mata bem  no caminho de volta para o rancho, nem correr nos podíamos, pois estaríamos indo ao encontro dele! Foi só tremedeira e ao que parece, ao escutar nossa valentia, o bicho ficou quieto e não gritou mais, parecia que estava nos observando ... pensei na ocasião. Demos um pequeno tempo para ver o que acontecia, deve ter sido uns dois segundos que duraram horas ... e corremos!

Anos depois descobri que se tratava de um singelo Cachorro do Mato (Cerdocyon thous) na época do cio, mas seu  “uivo" é  uma coisa bem estranho mesmo!

Fazia muitos anos que não tínhamos sinais da presença deste  bichinho na região, lembro que o ultimo vestígio de sua presença que vislumbrei  é do meu tempo de criança mesmo; eu estava junto com o caseiro do sítio, o Seu Zé Rosa, e vimos uma cana mastigada pela metade, e o Zé não teve dúvidas , disse “- É cachorro do Mato! Esse bicho é fogo! Sobe em bananeira pra comer os cachos maduros!”

O cachorro do mato  de fato é um bicho inofensivo, se alimenta de frutas, ovos, e pequenos animais, quando a noite, durante focagens noturna o avistamos ele tende a ficar  parado, confiando na sua camuflagem notuna, e ao direcionarmos  a lanterna  para ele, seus olhos assumem uma coloração amarelada. Foi assim que tirei estas primeiras fotos do bichinho na BASE BELA VISTA, com minha noiva o iluminando com uma lanterna Tática.!


Ficamos muito felizes em poder ver este bicho tão pacato, não chegamos muito perto para não assustá-lo , e ele ficou um tempão parado nos olhando! Muito Bom!

Escute  o  "CANTO" do cachorro do mato e veja se não tenho razão:


https://drive.google.com/file/d/0ByhGbWzFl7tJblp4Y1IyTmRLbGs/view?usp=sharing